Ladainha- Cântico que é entoado na Roda de Capoeira, tradicionalmente na capoeira Angola, que, seguido a tradição, deve ser cantada por um Mestre - o mais velho e/ou mais considerado -, ou, com a autorização do Mestre da Roda , por um dos Capoeiristas que vão "fazer um jogo", ao "pé do Berimbau". As Ladainhas trazem em seu bojo a história da Capoeira e de seus grandes personagens , concepções de mundo, orientações a algum aprendiz etc. Segundo os "Velhos Mestres" da Bahia, enquanto a Ladainha está sendo cantada, não se realiza nenhum "jogo físico", é necessário aproveitar o momento para dedicar-se à concentração máxima, tendo em vista o correto entendimento da(s) mensagem(ns) que nela está(estão) contida(s).


sexta-feira, 11 de março de 2011

Ladainhas, de Mestre Mintirinha

Ladainhas, de mestre Mintirinha


Eu até chorei
Quando vieram me avisar
Que o Grande capoeira partiu para nunca mais voltar
Prepare a manta mamãe...
Prepare o cavalo meu irmão...
A distancia é tão grande
Mas eu tenho que ir pra lá...
Vou, vou correndo como vou
E como vou
Meu cavalo como trota na ladeira
É a última homenagem que presto a esse Capoeira
E quando eu cheguei
Olha, eu não suportei
Sou cabra rude, macho e forte
Mas assim mesmo chorei
A tristeza era tão grande
Que o atabaque até furou
O pandeiro inconsolável para sempre se calou
Reco-reco amargurado caiu no chão, se quebrou
Somente o berimbau foi o que continuou
Prestando a sua homenagem a seu dono, seu senhor
Iê chora o berimbau
Iê chora o berimbau, Camará...
Iê lamenta o pandeiro
Iê lamenta o pandeiro, Camará...

E lá vou eu
Por esse mundo afora
Não tem dia nem tem hora
Agora é só eu e Deus
Viver sozinho
É a força do destino
Recordar essa lembrança
No meu peito a esperança
De ter você
Novamente nos meus braços
Te beijando, te abraçando
Louco, louco te amando
Agora é só eu e Deus
Agora é só eu e Deus, camará...

Luís Américo da Silva
Mestre Mintirinha

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Dona Isabel

Dona Isabel

Dona Isabel que história é essa de ter feito abolição
De ser princesa boazinha que libertou a escravidão
To cansado de conversa, to cansado de ilusão
Abolição se fez com sangue que inundava este país
Que o negro transformou em luta cansado de ser infeliz
Abolição se fez bem antes e ainda há por se fazer agora
Com a verdade da favela e não com a mentira da escola
dona Isabel chegou a hora de se acabar com essa maldade
De se ensinar aos nossos filhos, o quanto custa a liberdade
Viva Zumbi nosso rei negro que fez-se herói lá em Palmares
Viva a cultura desse povo a liberdade verdadeira
Que já corria nos Quilombos e já jogava capoeira
Iê viva Zumbi...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Noite Sem Lua

Noite Sem Lua

Era uma noite sem lua,
Era uma noite sem lua,
Era uma noite sem lua
Era uma noite sem lua e eu tava sozinho
Fazendo do meu caminhar o meu próprio caminho
Sentindo o aroma das rosas e a dor dos espinhos

(refrão)

De repente apesar do escuro eu pude saber
Que havia alguém me espreitando sem que nem porque
Era hora de luta e de morte, é matar ou morrer

(refrão)

A navalha passou me cortando era quase um carinho
Meu sangue misturou-se ao pó e as pedras do caminho
Era hora de pedir o axé do meu orixá
E partir para o jogo da morte é perder ou ganhar

(refrão)

Dei o bote certeiro da cobra alguém me guiou
Meia lua bem dada é a morte
E a luta acabou

(refrão)

Eu segui pela noite sem lua
Histórias na algibeira
Não é fácil acabar com a sorte de um bom capoeira

(refrão)

Se você não acredita me espere num outro caminho
E prepara bem sua navalha
Eu não ando sozinho

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Juízo Final


Juízo Final

O dia que o lamento do negro fez o feito chorar
Suas lágrimas caíram dos olhos
Não pude acreditar
O negro perguntava pro feitor
Por que é que você ma bateu?
Se o sangue que corre em suas veias
É bem parecido com o meu
Será que é pela pele escura?
Não sei
Feitor queria que você
Passasse um dia lá na senzala
Com fome, com frio e com medo
Torcendo prá que a noite chegasse
Na madrugada um pensamento ruim
A porta vai se abrir
O negro é arrastado prá fora
E amarrado no tronco da dor
Mas logo o dia vai brilhar
E na enxada o negro vai trabalhar
Com seu corpo todo machucado
Será que ele vai aguentar?
Mas quando chegar o seu dia feitor
Dia do juízo final
Você vai ficar frente a frente
Com o negro do canavial
E nesse dia feitor
Sua pele clara não vai prevalecer
Oh no dia.
Coro
No dia que o lamento do negro fez o feitor chorar.
Oh no dia.
Coro
No dia que o lamento do negro fez o feitor chorar.